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Ergue-te ousado sobre o chão da praça,
Homem de bronze, — imagem de monarca,
Simulacro fatal!
Pisa inda as turbas humilhadas, como
As duras patas do corcel que montas
O chão do pedestal.

Cansadas nunca de opressores ferros,
Livres de um jugo,— de outro jugo escravas,
As massas enervadas
Do pó resgatam seus tiranos mortos,
E à luz do sol inundam de louvores,
Por terra debruçadas!

Raça de Ilotas, que fizestes pois
Da férvida centelha que no seio
Vos pos a Divindade?
Porque reledes o passado escuro,
Quando deveras derribar os tronos
Cantando a liberdade?

Vota-se à treva o busto dos Andradas,
Some-se a glória de ferventes mártires
Na lama do ervaçal!
Mas fria a estátua pisa a turba, como
As duras patas do corcel de bronze
O chão do pedestal!