Página:Obras completas de Luis de Camões III (1843).djvu/228

229

Nada buscava mais, mais não queria
Que o repouso do fogo em qu’elle ardia.

Os repetidos jogos dos pastores,
As lutas entre a rama repetidas,
Em nada lhe divertem suas dores;
Mas antes n’alegria as vê crescidas.
Como o repouso roubão os amores
Ás almas que para elles são nascidas,
Elle, todo o repouso qu’esperava,
Consistia na Nympha que buscava.

Com o chôro, que ja corria em fio
Por o pallido rosto, augmenta as fontes,
Que levão ágoa estranha ao claro rio
Que os valles vai regando entre altos montes.
Com suspiros a quem o ecco pio
Responde de apartados horizontes,
Os ventos parecia qu’enfreava,
Os montes parecia que abalava.

Que ás queixas de seus doces pensamentos
Se movessem os montes mais constantes,
Se parassem os mais veloces ventos,
Qu’estavão, que corrião circumstantes,
Bem se devia á dor de seus tormentos,
E inda que fosse em peitos de diamantes;
Que hum peito de diamante abrandaria
O triste som das mágoas que dizia.

Porém elle as dizia a outro peito,
Mais, que diamante, inexpugnavel, duro:
A fé lh’encarecia, a que sogeito
O tinha em pena eterna o amor puro;
Mostrava-lhe este n’alma mais perfeito,