272
MOÇA.
Não tenhais esses enganos.
PORTEIRO.
Nem vós tenhais esses olhos;
Que de vossos olhos vem
Esta minha pena fera.
MOÇA.
De meus olhos? Assim era.
PORTEIRO.
Moça, que taes olhos tem,
Nenhuns olhos ver devêra.
MOÇA.
E porque?
PORTEIRO.
Porque cegais
A quantos olhos olhais,
Postoque por vós padecem.
Olhos, que tão bem parecem,
Porque não os castigais?
MOÇA.
Deos dê siso, pois de vós
Tirou o que aos outros deu.
PORTEIRO.
Desatae-me lá esses nós.
Que mais siso quero eu,
Que não ter siso por vós?
MOÇA.
Fallais d’arte; eu vos prometo
Que a resposta vem á vela.
Isso he ôlho de panella.
Quanto ha ja que sois discreto?