Que vençais no Oriente tantos Reis,
Que de novo nos deis da India o Estado,
Que escureçais a fama que hão ganhado
Aquelles, que a ganhárão de infieis;
Que vencidas tenhais da morte as leis,
E que vencesseis tudo, em fim, armado,
Mais he vencer na patria, desarmado,
Os monstros e as Chimeras que venceis.
Sôbre vencerdes, pois, tanto inimigo,
E por armas fazer que sem segundo
No mundo o vosso nome ouvido seja;
O que vos dá mais fama inda no mundo,
He vencerdes, Senhor, no Reino amigo,
Tantas ingratidões, tão grande inveja.
Vossos olhos, Senhora, que competem
Com o sol em belleza e claridade,
Enchem os meus de tal suavidade,
Que em lagrimas de vê-los se derretem.
Meus sentidos prostrados se submetem
Assi cegos a tanta magestade;
E da triste prisão, da escuridade,
Cheios de medo, por fugir, remetem.
Porém se então me vêdes por acêrto,
Esse aspero desprêzo com que olhais
Me torna a animar a alma enfraquecida.
Oh gentil cura! Oh estranho desconcêrto!
Que dareis co'hum favor que vós não dais,
Quando com hum desprêzo me dais vida?