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SONETOS.
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CVIII.

Brandas águas do Tejo que, passando
Por estes verdes campos que regais,
Plantas, hervas, e flores, e animais,
Pastores, Nymphas, ides alegrando;

Não sei, (ah doces águas!) não sei quando
Vos tornarei a ver; que mágoas tais,
Vendo como vos deixo, me causais,
Que de tornar ja vou desconfiando.

Ordenou o destino, desejoso
De converter meus gostos em pezares,
Partida que me vai custando tanto.

Saudoso de vós, delle queixoso,
Encherei de suspiros outros ares,
Turbarei outras águas com meu pranto.



CIX.

Novos casos de Amor, novos enganos,
Envoltos em lisonjas conhecidas;
Do bem promessas falsas e escondidas,
Onde do mal se cumprem grandes danos;

Como não tomais ja por desenganos
Tantos ais, tantas lagrimas perdidas,
Pois que a vida não basta, nem mil vidas,
A tantos dias tristes, tantos anos?

Hum novo coração mister havia,
Com outros olhos menos aggravados,
Para tornar a crer o que eu vos cria.

Andais comigo, enganos, enganados;
E se o quizerdes ver, cuidai hum dia
O que se diz dos bem acutilados.