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SONETOS.


CXXVI.

No regaço de mãe Amor estava
Dormindo tão formoso, que movia
O coração que mais isento o via;
E a sua propria mãe de amor matava.

Ella, co'os olhos nelle, contemplava
A quanto estrago o mundo reduzia:
Elle porém, sonhando, lhe dizia
Que todo aquelle mal ella o causava.

Soliso que, graduado em seus amores,
De saber de ambos mais teve a ventura,
Assi soltou a dúvida aos pastores:

Se bem me ferem sempre sem ter cura
Do menino os ardentes passadores,
Mais me fere da mãe a formosura.



CXXVII.

Este terreste caos com seus vapores
Não póde condensar as nuvens tanto,
Que o claro sol não rompa o negro manto
Cum suas bellas e luzentes côres.

A ingratidão esquiva de rigores
Opposta nuvem he, que dura em quanto
Nos não converte o Ceo em triste pranto
Suas vãas esperanças, seus favores.

Póde-se contrapôr ao ceo a terra,
E estar o sol por horas eclipsado;
Mas não póde ficar escurecido.

Póde prevalecer a vossa guerra;
Mas, a pezar das nuvens, declarado
Ha de ser vosso sol, e obedecido.