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SONETOS.


CXC.

Despois que vio Cibele o corpo humano
Do formoso Atys seu verde pinheiro,
Em piedade o vão furor primeiro
Convertido, chorava o grave dano.

E, á sua dor fazendo illustre engano,
A Jupiter pedio, que o verdadeiro
Preço da nobre palma e do loureiro
Ao seu pinheiro désse, soberano.

Mais lhe concede o filho poderoso
Que, crescendo, as estrellas tocar possa,
Vendo os segredos lá do ceo superno.

Oh ditoso pinheiro! oh mais ditoso
Quem se vir coroar da rama vossa,
Cantando á vossa sombra verso eterno!



CXCI.

Pois torna por seu Rei e juntamente
Por Christo a governar aquella parte
Onde se tẽe mostrado hum Numa, hum Marte
O famoso Luis, justo e valente;

O Tejo espere ver de todo o Oriente,
Onde tão raros dões o Ceo reparte,
Render a tanto esfôrço, aviso e arte,
Mil palmas, mil tributos novamente.

Os que bebem no Gange, os que no Indo,
A quem pouco valêrão lança e escudo,
O render-se terão por bom partido.

O Euphrates temerá, seu nome ouvindo;
Que para delle ver vencido tudo,
Ja vio do braço seu tudo vencido.