Cá nesta Babylonia donde mana
Materia a quanto mal o mundo cria;
Cá donde o puro Amor não tẽe valia;
Que a Mãe, que manda mais, tudo profana;
Cá donde o mal se affina, o bem se dana,
E póde mais que a honra a tyrannia;
Cá donde a errada e cega Monarchia
Cuida que hum nome vão a Deos engana;
Cá neste labyrintho onde a Nobreza,
O Valor e o Saber pedindo vão
Ás portas da Cobiça e da Vileza;
Cá neste escuro caos de confusão
Cumprindo o curso estou da natureza.
Vê se me esquecerei de ti, Sião!
Correm turbas as águas deste rio,
Que as rapidas enchentes enturbárão;
Os florecidos campos se seccárão;
Intratavel se fez o valle e frio.
Passou, como o verão, o ardente estio;
Humas cousas por outras se trocárão:
Os fementidos fados ja deixárão
Do mundo o regimento, ou desvario.
Ja o tempo a ordem sua tẽe sabida;
O mundo não; mas anda tão confuso,
Que parece que delle Deos se esquece.
Casos, opiniões, natura, e uso,
Fazem que nos pareça desta vida
Que não ha nella mais do que parece.