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SONETOS.
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CCXX.

Que me quereis perpétuas saudades?
Com qu'esperanças inda me enganais?
O tempo, que se vai, não torna mais,
E se torna, não tornão as idades.

Razão he ja, ó annos, que vos vades,
Porque estes tão ligeiros que passais,
Nem todos para hum gôsto sois iguais,
Nem sempre são conformes as vontades.

Aquillo a que ja quiz he tão mudado,
Que quasi he outra cousa; porque os dias
Tẽe o primeiro gôsto ja damnado.

Esperanças de novas alegrias,
Não m'as deixa a Fortuna e o tempo irado,
Que do contentamento são espias.



CCXXI.

Oh rigorosa ausencia desejada
De mi sempre, mas nunca conhecida!
Saudade, n'outro tempo tão temida,
Como em meu damno agora exprimentada!

Ja rigorosamente começada
Tendes vossa esperança em minha vida;
Mas tanto, que ja temo que opprimida
Sejais com ella cedo, ou acabada.

Os dias mais alegres me entristecem;
As noites, com cuidados as desconto,
Em que sem vós sem conto me parecem.

Eu desejando espero, e os annos conto;
Mas com a vida, em fim, elles fallecem:
Nem basta á carne enfêrma esprito pronto.