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CCL.
Nas Cidades, nos bosques, nas florestas,
Nos valles, e nos montes, teus louvores
Sempre te cantem musicos pastores
Nas manhãas frias, nas ardentes sestas.
  E neste Templo donde manifestas
E repartes agora teus favores,
Com Psalmos, hymnos, e com varias flores
Sejão celebres sempre as tuas festas.
  Estes te offreção pés, ess'outros mãos;
D'aquelles pendão sôbre os teus altares
Monstros do mar, de servidão prisões.
  Que eu cuidados, enganos e affeições,
Muito maiores monstros, e milhares
Te deixo aqui de pensamentos vãos.
CCLI.
Vi queixosos de Amor mil namorados,
E nenhuns inda vi com seus louvores;
E aquelle que mais chora o mal de amores,
Vejo menos fugir de seus cuidados.
  Se das dores de Amor sois mal tratados,
Porque tanto buscais de Amor as dores?
E se tambem as tendes por favores,
Porque dellas fallais como aggravados?
  Não queirais alegria achar algũa
No Amor, porque he composto de tristeza,
Na fortuna que acheis mais agradavel.
  Nella e nelle achei sempre a mesma lũa,
Em quem nunca se vio outra firmeza,
Que não seja a de ser sempre mudavel.