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SONETOS.


CCLXII.

A peregrinação d'hum pensamento,
Que dos males fez hábito e costume,
Tanto da triste vida me consume,
Quanto cresce na causa do tormento.

Leva a dor de vencida ao soffrimento;
Mas a alma está, de entregue, tão sem lume,
Qu'enlevada no bem que haver presume,
Não faz caso do mal qu'está de assento.

De longe receei (se me valêra)
O perigo que tanto á porta vejo,
Quando não acho em mi cousa segura.

 Mas ja conheço, (oh nunca o conhecêra!)
Qu'entendimentos presos do desejo
Não tẽe remedio mais que o da ventura.



CCLXIII.

Acho-me da fortuna salteado;
O tempo vai fugindo presuroso,
Deixando-me da vida duvidoso,
E cada instante mais desesperado.

Trocou-se o meu descuido em tal cuidado,
Que donde a gloria he mais, he mais penoso.
Nem vivo de perder-me receoso,
Nem de poder ganhar-me confiado.

Qualquer ave nos montes mais agrestes,
Qualquer fera na cova repousando,
Tẽe horas de alegria: eu todas tristes.

Vós, saudosos olhos, que o quizestes,
(Pois com tormento Amor me está pagando)
Chorai, como que vêdes, o que