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Sua mágoa espalhando ao vento frio.
Toca, Frondelio, toca a doce lira;
Que d'aquelle verde alamo sombrio
A branda Philomela entristecida
Ao mais saudoso canto te convida.
            FRONDELIO.
  Aquelle dia as águas não gostárão
As mimosas ovelhas; e os cordeiros
O campo enchêrão d'amorosos gritos.
E não se pendurárão dos salgueiros
As cabras, de tristeza; mas negárão
O pasto a si, e o leite a os cabritos.
Prodigios infinitos
Mostrava aquelle dia,
Quando a Parca queria
Princípio dar ao fero caso triste.
E tu tambem (ó corvo) o descobriste,
Quando da mão direita em voz escura,
Voando, repetiste
A tyrannica lei da morte dura.
  Tionio meu, o Tejo crystallino,
E as árvores que ja desamparaste
Chórão o mal de tua ausencia eterna.
Não sei porque tão cedo nos deixaste!
Mas foi consentimento do Destino,
Por quem o mar e a terra se governa.
A noite sempiterna,
Que tu tão cedo viste
Cruel, acerba e triste,
Sequer de tua idade não te dera
Que lográras a fresca primavera?{151}