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  Ou seja por vós, Nymphas, preservada;
Ou em arvore alguma, ou pedra dura
Me deixai velozmente transformada.
            ALMENO.
  Ah Nympha! não te mudes a figura:
Nem vós, deosas, queirais qu'eu seja parte
De se mudar tão rara formosura.
  Porqu'a quem falta a voz para fallar-te,
E a quem falta o despejo da ousadia,
Tambem faltarão mãos para tocar-te.
            BELISA.
  Que me queres, Almeno, ou que porfia
Foi a tua tão aspera comigo?
Minha vontade não to merecia.
  Se com amor o fazes, eu te digo,
Qu'amor, que tanto mal me faz em tudo,
Não póde ser amor, mas inimigo.
  Não es tu de saber tão falto e rudo,
Que tão sem siso amasses, como amaste.
            ALMENO.
Onde viste tu, Nympha, amor sisudo?
  Porque ja não te lembra que folgaste
Com meus tormentos tristes, e algum'hora
Com teus formosos olhos ja m'olhaste?
  Como t'esquece ja (gentil pastora)
Que folgavas de ler nos freixos verdes
O que de ti 'screvia cada hora?
  Porqu'a memoria tão á pressa perdes
Do amor que me mostravas, qu'eu não digo,
Se o vós, ó altos montes, não disserdes?
  E como te não lembras do perigo,{186}