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Folego algum da pressa que trazião)
Desta sorte sentido se queixava:
            SATYRO PRIMEIRO.
  Ah Nymphas fugitivas,
Que só por não usar humanidade
Os perigos dos matos não temeis!
Para que sois esquivas?
Qu'inda de nós não peço piedade,
Mas dessas alvas carnes, que offendeis.
Ah Nymphas! não vereis
Que Eurydice, fugindo dessa sorte,
Fugio do amante, e não da fera morte?
Tambem assi Eperie foi mordida
Da vibora escondida.
Olhae a serpe occulta na herva verde.
Quem o rigor não perde, perde a vida.
  Que tigre, ou que leão,
Que peçonhenta fera venenosa,
Ou qu'inimigo, emfim, vos vai seguindo?
D'hum brando coração,
Que preso dessa vista rigorosa
De si para vós foge, andais fugindo?
Olhae que em gesto lindo
Não se consente peito tão disforme;
Se não quereis que tudo se conforme.
Posto que bellas n'ágoa vos vejais,
Á fonte não creais,
Que vos traz enganadas por vingança
Desta nossa esperança, que enganais.
  Mas ah! que não consinto
Que nem palavra minha vos offenda,{