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Huma, porque fugia ao deos do mar;
Outra, porque tentára o patrio leito:
E Scylla, que a seu pae poz em perigo,
Só por ser muito amiga do inimigo.
  E Pico, a quem ficárão inda as côres
Da purpura Real, que antes vestia;
Esaco, que o seguir de seus amores
O trouxe a ver tão cedo o extremo dia:
Ou vêde os dous tão firmes amadores,
Que amor aves tornou na praia fria.
Do Rei dos ventos era genro o triste;
Mas contra o fado, emfim, nada resiste.
  Estava a triste Halcyone, esperando
Com longos olhos o marido ausente;
Mas os ventos indomitos soprando,
Nas ágoas o affogárão tristemente.
Em sonhos se lh'está representando;
Que o coração preságo nunca mente:
Só do bem as suspeitas mentirão,
Mas as do mal futuro certas são.
  Ao pranto os olhos seus a triste ensaia;
Buscando o mar com elles hia e vinha:
Quando o corpo sem alma achou na praia.
Sem alma o corpo achou, que n'alma tinha!
Ó Nereidas do Egêo, consolai-a,
Pois este pio officio vos convinha.
Consolai-a; sahi das vossas ágoas;
Se consolação ha em grandes mágoas.
  Mas oh nescio de mi! qu'estou fallando
Das avezinhas mansas e amorosas?
Pois tambem teve Amor natural mando{238}
Entr'as