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ECLOGA XIV.
INTERLOCUTORES.
ERGASTO, DELIO, LAURENO.
ERGASTO.
Agora, ja que o Tejo nos redeia,
Neste penedo, donde mansamente
Murmurando se quebra a branda veia,
Espera, Delio, até que do Occidente
D'azul deixe a ribeira matizada
O sol, levando o dia a outra gente.
Entretanto daqui verás pintada
A praia de conchinhas d'ouro e prata,
E a ágoa dos mansos sopros encrespada.
Verás como do monte se desata
A vagarosa fonte por penedos,
Que pouco a pouco cava e desbarata;
E como move os frescos arvoredos
Favonio, que de flores pinta o prado;
E como s'estão rindo os campos ledos.
Ditoso o que do Ceo foi tão amado,
Que no campo alcançou passar a vida,
Livre de pena, livre de cuidado.
O rouxinol na vara, que vestida
De verdes folhas, sombra faz ao rio,
Lhe canta o doce verso sem medida.
Agora ao pé d'hum alamo sombrio
Vê como dous carneiros s'