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Tambem obra he d'Alceo, das mais polidas.
  Esta, das que me deo, foi a primeira;
Que a dar-ma o velho Alcido emfim s'abranda,
Ouvindo-me cantar nesta ribeira.
  Ouvio-m'então, estando desta banda;
E dando-ma, dizia-me: Este seja
O premio, Ergasto, dessa Musa branda.
            LAURENO.
  Delio o nosso cantar pondere, e veja
Qual dos dous a voz dá mais docemente;
Que huma tal causa tal juiz deseja.
            DELIO.
  Se o meu juizo cada qual consente,
Tu, Ergasto, ao doce canto dá comêço;
Tu responde, Laureno, juntamente:
  E eu fico que nenhum perca o seu preço.
            ERGASTO.
  Alcida, que na côr o leite puro,
E a rosa da manhãa deixas vencida,
Culpa he dos olhos teus, nelles o juro,
Est'amor de qu'estás tão offendida.
Castiga-os com me verem; qu'eu seguro
Que a vingança será delles sentida:
Nem temas tu d'os meus alegres serem,
Vendo tristes taes olhos por me verem.
            LAURENO.
  Violante minha, cuja côr iguala,
Mas antes vence os cravos, vence a neve;
Desta dor, que atéqui minha alma cala,
Teu amoroso riso a culpa teve.
Se só por viver della e por amá-la,{284}