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Se por tamanho amor tanto mereço:
Armados d'esquivança então vos veja
Cheios d'hum não sei que, com que pereço;
Que doce me será tal esquivança.
Doce o morrer, qu'em olhos taes s'alcança!
            LAURENO.
  Olhos, que vos moveis tão docemente,
Que traz vós todo o mundo ides levando,
Eu não sei se tomais do ceo luzente
O movimento seu, se lho estais dando:
Sei certo (e não m'engano,) sei somente
Que a vós de mi minh'alma ides passando:
Mas não posso entender como deixais
Ao descuido o que vós em vós levais.
            ERGASTO.
  Por mais que a minha soberana Alcida
(Minha não, porque só sua belleza
Vem a ser minha em ser de mi querida)
Me trate vezes mil com aspereza;
Huma só vez que della acho admittida
Minha pequena vista na grandeza
Da luz do rosto seu, sinto tal gloria,
Que de todo o penar perco a memoria.
            LAURENO.
  Quando a minha mais que unica Violante
(Se minha póde ser a que he tão sua)
Aquella santa luz hum breve instante
Me deixa ver, por mais que a veja crua;
A vista tanto em mi vejo a diante,
Que não he muito, não, que m'attribua{