O mor bem para ti o mor mal fôra;
E todo o mal maior te contentára.
Deixa que chore quem com gôsto chora:
Deixa-me lamentar meu triste fado;
Que a hum triste a hora de chôro he melhor hora.
Tu não trazes agora outro cuidado
Mais que buscar no valle a sombra fria,
Quando te offende o sol mais empinado.
Coitado de quem passa a noite e dia
Porfiando em morrer, e a sorte dura
Em fugir-lhe co'a morte só porfia!
Oh formosa Natercia! a excelsa altura
Do glorioso Olympo andas pizando;
E eu ausente da tua formosura!
SYLVANO.
Qu'he isso, que do ceo estás fallando?
Parece-me que ja não es Soliso,
Ou que de puro amar vás delirando.
SOLISO.
Quem ja perdeo aquelle doce riso,
Que siso produzia e dava vida,
Não he muito que perca a vida e siso.
SYLVANO.
Declara-me que cousa tens perdida,
De que tanto te queixas; que ao que sento,
Natercia destes valles he partida.
SOLISO.
Quão livre falla aquelle que o tormento
Alheio vê de fóra, mas não sente
Onde chega tamanho sentimento!
A gloria qu'eu perdi não me consente{296}