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XIV.
Quem com sólido intento
Os segredos buscar da natureza,
Quanto d'Athenas préza,
Entregue ao mar irado, ao leve vento:
Em forjar meu tormento,
Nova Philosophia,
D'experiencias feita, Amor m'ensina.
Das Leis do antigo tempo bem declina;
Que Amor a natureza em mi varía;
Donde escola de Sabios nunca vio
Em natural sogeito
Quanto Amor em meu peito descobrio.
  As aves no ar sereno,
O gado de Proteo nas ágoas pasce;
Vive o homem e nasce
Neste mundo, qual mundo mais pequeno:
Eu tudo desordeno,
Em todos dividido;
A boca no ar, na terra o entendimento:
Dá-me esse Amor, dá-me esta o pensamento;
O coração no fogo he consumido:
Mas a ágoa, que dos olhos sempre desce,
Tẽe effeito tão vário,
Qu'em hum humor contrário o fogo cresce.
  Da vista Amor sohia
Abrir ao coração segura entrada:
Lei he ja profanada;{