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Que torna tudo raso,
Do qual não sabe o engenho divisar
Se foi por artificio, ou feito acaso;
Da presença os meneios e a postura,
O andar e o mover-se,
Donde póde aprender-se formosura.
Aquelle não sei que,
Que aspira não sei como,
Qu'invisivel sahindo, a vista o vê,
Mas para o comprender não lhe acha tomo;
E que toda a Toscana Poesia,
Que mais Phebo restaura,
Em Beatriz, nem Laura nunca via:
Em vós a nossa idade,
Senhora, o póde ver,
S'engenho, se sciencia e habilidade,
Iguaes á vossa formosura der,
Qual a vi no meu longo apartamento,
Qual em ausencia a vejo.
Taes azas dá o desejo ao pensamento!
Pois se o desejo afina
Hum'alma accesa tanto,
Que por vós use as partes de divina;
Por vós levantarei não visto canto,
Que o Betis me ouça, e o Tibre me levante:
Que o nosso claro Tejo,
Envolto hum pouco o vejo e dissonante.
O campo não o esmaltão
Flores, mas só abrolhos
O fazem feio; e cuido que lhe faltão
Ouvidos para mi, para vós olhos.{376}