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Onde o cego menino
Faz que os humanos crêão que he divino:
Quando a formosa Nympha,
Com todo o ajuntamento venerando,
Na crystallina lympha
O corpo crystallino está lavando;
O qual nas ágoas vendo,
Nelle, alegre de o ver, s'está revendo:
O peito diamantino,
Em cuja branca teta Amor se cria;
O gesto peregrino,
Cuja presença torna a noite em dia;
A graciosa boca
Que a Amor com seus amores mais provoca;
Os rubins graciosos;
As pérolas qu'escondem vivas rosas
Dos jardins deleitosos,
Que o ceo plantou em faces tão formosas;
O transparente collo,
Que ciumes a Daphne faz d'Apollo;
O subtil mantimento
Dos olhos, cuja vista a Amor cegou;
A Amor que, com tormento
Glorioso, nunca delles se apartou,
Pois elles de contino
Nas meninas o trazem por menino;
Os fios derramados
Daquelle ouro que o peito mais cobiça,
Donde Amor enredados
Os corações humanos traz e atiça,
E donde com desejo{388}