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A cantilena do sabiá sombrio
Encanta as ilusões, afaga o sono...
Ó! minha pensativa, descuidosa,
Eu sinto a vida bela em teu regaço,
Sinto-a bela nas horas do silêncio
Quando em teu colo me reclino e durmo...
E ainda os sonhos meus vivem contigo!
 
Ah! vem, ó minha Ilná: sei harmonias
Que a noite ensina ao violão saudoso
E que a lua do mar influi na mente;
E quando eu vibro as cordas tremulosas,
Como alma de donzela que respira,
Coa nas vibrações tanta saudade,
Tanto sonho de amor esvaecido...
Que o terno coração acorda e geme
E os lábios do poeta inda suspiram!
 
Anjo do meu amor! se os ais da virgem
Têm doçuras, têm lágrimas divinas,
É quando, no silêncio e no mistério,
Sobre o peito do amante se derramam
No sufocado alento os moles cantos...
— Cantos de amor, de sede e d'esperanças
Que nos lábios febris lhe afoga um beijo!
 
Ouves, Ilná?... meu violão palpita: