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Foi abatida, a forma desmaiada,
Uma pobre infeliz que descorando
Fazia os prantos meus correr-me aos olhos!
 
Pobre! pobre mulher! esses mancebos
Que choravam por ti... quando gemias,
Quando sentias a tua alma ardente
No canto esvaecer, pálida e bela,
E teu lábio afogar entre harmonias
— Almas que de tua alma se nutriam!
Que davam-te seus sonhos, e amorosas
Desfolhavam-te aos pés a flor da vida...
Ai quantas não sentiste palpitantes,
Nem ousando beijar teu véu d'esposa,
Nas longas noites nem sonhar contigo!
 
E hoje riem de ti! da criatura
Que insana profanou as asas brancas!...
Que num riso sem dó, uma por uma,
Na torrente fatal soltava rindo,
E as sentia boiando solitárias...
As flores da coroa, como Ofélia!...
Que iludida do amor vendeu a glória
E deu seu colo nu a beijo impuro...
Eles riem de ti!... mas eu, coitada,
Pranteio teu viver e te perdôo.