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Meu Luiz.

Rio, 1º de março de 1850.

Recebi uma carta tua, escripta lá do Rio Grande logo á tua chegada. Por uma outra que escreveste ultimamente ao meu primo, me annunciavas uma carta no correio. Lá fui, e não achei-a.

Não irás pois a S. Paulo comigo. Dous annos tive eu lá como provação; era-me o consôlo, esperança (ai! que bem pobre esperança, que assim tão leviana se foi!) viver lá comtigo...

Luiz, ha ahi não sei que no meu coração que me diz que talvez tudo esteja findo entre nós. — Será uma mentira, uma dessas gottas de fel que se embebem no cerebro como uma loucura, ou um presentimento — negro embora — verdadeiro como o primeiro pio da procellaria aos preludios do vendaval por mar alto?

Tudo talvez esteja findo. — Minha amizade, Luiz, talvez tenha de viver-se de novo daquelle meu passado de dous annos, de saudades. — Saudade — exprime a magoa da separação, o desejo de tornar a ver-se, talvez um laivo de luz de esperança de porvir mais bello, não, Luiz?

Não tenho passado ocioso estas férias, antes bem trabalhadas de leitura tenho-as levado. N’ esse pouco espaço