Mas em geral, o que ás vezes ainda me aviva o pulsar mais trepido do sangue é a voluptuosidade que se me vislumbra n’uma mulher donairosa, n’uma daquellas que parecem feitas por Deus como estatuas para rezar-se-lhes ao sopé, para pedir-lhes, como á Vénus lasciva, uma hora — uma só — de gozo...
Sâo sonhos — sonhos! Luiz! E’ loucura abrir tanto as azas de anjo do coração a essas brizas enlevadas que á tarde vem tão susurrantes de enleio, tão impregnadas de aromas de beijos! E’ loucura! E comtudo quando o homem só vive delles — quando ahi todas as portas fechárâo-se ao engeitado, porque náo ir bater no só da noite ao palacio de fada das imaginações?
Ha uma unica cousa que me podesse dar hoje o alento que me morre. — Que me morre... — disse eu; não creias que minto. Todos aqui me estranhão este anno o taciturno da vida e o peso da distracção que me assombra. — O meu viver solitario, fechado só no meu quarto, o mais das vezes lendo sem ler, escrevendo sem ver o que escrevo, scismando sem saber o que scismo — talvez alguma lagrima furtiva rolou pela face de minha mãe... Pobre mãe! — não é assim, meu Luiz? Pobres (não o crês?) daquellas que vêem o filho pender e murchar pallido como a sons da musica sombria que elle só escuta!
Disse-t’o eu: ha uma unica cousa que me podesse dar