Mais algumas palavras e findamos o capítulo. - A literatura moderna portuguesa de hoje tem tido seu aluziar, seus relumbres do mesmo gênio e nisso tem acompanhado a espanhola. Pelos poetas que levaram arma ao ombro na guerra da carta em Portugal, a Espanha tem os constitucionais Larra, Espronceda e Zorrilla.
Contudo, nem sempre a poesia peninsular ergueu-se à sombra dos velhos cantos guerreiros; quase sempre ela renega do passado romântico de Camões e Bernardim pelo crisocal da escola de V. Hugo. O timbre, às vezes a exageração de lavor e louçanias nas formas, o quebro harmonioso do molde, o requinte da idéia facetada como um diamante, esmerada como um arabesco da renascença florentina, eis aí quanto ao metro, quanto ao trabalho artístico; e por isso o Sr. João de Lemos é para nós o representante da literatura portuguesa depois do Sr. Garret. Quanto à filosofia da poesia, é às vezes o egotismo ensombrado de Byron, o rir sardônico do poeta inglês: mas a ironia vem adonisada de flores, o sarcasmo lavrado a primor ressoa melodioso, como os "Ciúmes do Bardo" do Sr. Castilho... apesar ainda de todas as juras de proselitismo de uma forma mais severa que a do Eco e Narciso. No teatro, é o mesmo ademã dos Srs. Mendes Leal, Abranches, Pereira da Cunha. É o lirismo do canto das Orientais, dourando às vezes o gosto antigo das peripécias e enredos de Calderón e Vega,