Não: o que eu penso é diverso. É uma grande ideia que talvez nunca realize. É difícil encerrar a torrente de fogo dos anjos decaídos de Milton ou o pântano de sangue e lágrimas do Alighieri dentro do pentâmetro de mármore da tragédia antiga. Contam que a primeira ideia de Milton foi fazer do Paraíso Perdido uma tragédia ― um mistério ― não sei o quê: não o pôde; o assunto transbordava, crescia; a torrente se tornava num oceano. É difícil marcar o lugar onde para o homem e começa o animal, onde cessa a alma e começa o instinto ― onde a paixão se torna ferocidade. É difícil marcar onde deve parar o galope do sangue nas artérias, e a violência da dor no crânio. Contudo, deve haver ― e o há ― um limite às expansões do ator, para que não haja exageração, nem degenere num papel de fera o papel de homem. O Pobre Idiota tem esse defeito, entre mil outros. A cena do subterrâneo é interessante, mas é de um interesse semelhante àquele que excitava o Jocko ou o homem das matas ― aquele macaco representado por Morietti que fazia chorar a plateia.
O Pobre Idiota representa o idiotismo do homem caído na animalidade. O ator fez o papel que devia ― não exagerou, representou a fera na sua fúria ― uma fera, onde por um enxerto caprichoso do imitador de Hauser havia um amor poético por uma flor ― e uma estampa!
A vida e só a vida! mas a vida tumultuosa, férvida, anelante, às vezes sanguenta-eis o drama. Se eu escrevesse, se minha pena se desvairasse na paixão, eu a