mas é uma poesia terrível. E um hino de morte sem esperança do céu, como o dos fantasmas de João Paulo Richter. É o mundo sem a luz, como no canto da Treva. F, o ateísmo como na Rainha Mab de Shelley. Tenho pena daqueles que se embriagam com o vinho do ceticismo.
Macário: Amanhã pensarás comigo. Eu também fui assim. O tronco seco sem seiva e sem verdor foi um dia o arvoredo cheio de flores e de sussurro.
Penseroso: Não crer! e tão moço! Tenho pena de ti.
Macário: Crer? e no que? No Deus desses sacerdotes devassos? desses homens que saem do lupanar quentes dos seios da concubina, com sua sotaina preta ainda alvejante do cotão do leito dela para ir ajoelhar-se nos degraus do templo! Crer no Deus em que eles mesmos não crêem, que esses ébrios profanam até do alto da tribuna sagrada?
Penseroso: Não falemos nisto. Mas o teu coração não te diz que se nutre de fé e de esperanças?
Macário: A filosofia é vã. É uma cripta escura onde se esbarra na treva. As idéias do homem o fascinam, mas não o esclarecem. Na cerração do espírito ele estala o crânio