nos corredores: era assombro de tanta beleza, mais ainda que curiosidade indiscreta.
A dona da casa chegou-se a mim.
— Senhor, vossa esposa ou irmã, quem quer que ela seja, de certo precisara de uma criada que a sirva
— Deixai-me: ela dorme.
Foi essa a minha única resposta.
Deitei-a no leito: corri os cortinados, cerrei as janelas para que a luz lhe não turbasse o sono. Não havia ali ninguém que nos visse; estávamos sós, o homem e seu anjo, e a criatura da terra ajoelhou-se ao pé do leito da criatura do céu.
Não sei quanto tempo correu assim: não sei se dormia,
mas sei que sonhava muito amor e muita esperança: não
sei se velava, mas eu a via sempre ali, eu lhe contemplava
cada movimento gracioso do dormir: eu estremecia a cada
alento que lhe tremia os seios — e tudo me parecia um
sonho — um desses sonhos a que a alma se abandona como
um cisne, que modorra, ao som das águas... Não sei quanto
tempo correu assim: sei só que o meu delíquio quebrou-
se: a duquesa estava sentada sobre o leito: com os braços
nus afastava as ondas do cabelo solto que lhe cobria o
rosto e o colo.
— É um sonho? murmurou. Onde estou eu? quem esse homem encostado em meu leito?
O homem não respondeu.
Ela desceu da cama: seu primeiro impulso foi o pudor: quis encobrir com as mãozinhas os seios palpitantes