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quellas raças hercúleas agitavão o atropellar igneo das entranhas do homem — o amor ahi clevado como nos protagonistas da scena de Eschylo nos cothurnos, nas longas chlamydes, e nas mascaras de labios metallicos — não é só a fervura de um sangue máo, como diz o Iago Shakspeariano, — é o vibrar agourento como o ramalhar Dodonêo. O ciume não se cala ahi ao abafamento como no Othelo. São as multidões guerreiras da Grecia semi-barbara, que rugem tigrinas ás muralhas Troyanas por uma mulher que adormece acalentada nos beijos perfumados de Páris, no voluptuoso das lyras amorosas.

A epopéa do Tasso é a vibração d’aquella grande harpa Européa, é o christianismo no fanatismo, o instincto guerreiro dos povos que entrevêem na igualdade de sangue do campo da lide, na igualdade da valentia, a igualdade do porvir — o instincto guerreiro dos reis, que querem mostrar aos povos quanto lhes vai de realesa no brio assim como na fronte diademada. Entre a tendencia egoista e centralisadora dos reis e a tendencia de liberdade do poviléo, ha ahi a aspiração cavalleiresca — de pairar com as aguias montezas sobre o vôo das aves da planura sobre aquellas cabeças de plebe valente. Era um duello de brio entre a fidalguia e a plebe, — era um duello de brio e de alta politica entre o rei e o demais do povo — e o feudalismo.