Senhor, eu creio que inda vive
A minha e vossa Aurora: dela tive
Notícia há pouco tempo; um desses bravos,
Que o nosso bom Pori tem feito escravos,
Me contou como lá na sua Aldeia,
Que não longe é de nós, ela passeia,
Do Cacique estimada; ele contente
A busca esposa, e ela o não consente.
Mas por que quereis vós da minha boca
Ouvir todo o sucesso? Só me toca
Referir uma parte, que outra ignoro.
Lá na domada Aldeia, onde sonoro
Se vê correr o Paraíba, postas
Fomos por vosso mando: ali dispostas
A viver de outras leis, outros costumes
Detestávamos já dos nossos Numes
(Se alguns Deuses talvez nós conhecemos
Na bruta liberdade em que vivemos),
O culto, a religião; já divertidas
No curvo anzol, nas redes bem tecidas
Armávamos ao peixe; sobre o rio
Nos viu um dia o bárbaro Gentio,
Que em pequenas canoas rouba e mata;
Fugíramos talvez, mas o pirata
Nos surprende e conduz: vimos cativas
A viver entre os seus, e apenas vivas
De povo em povo nos transportam; fico
Co'a nação do Pori, e passa o rico
Tesouro de uma filha, que inda choro,
Ao crespo Monaxós; qual fosse, ignoro,
O triste resto do fatal destino.
Dos braços ma arrancaram: de ouro fino,
Ao despedir-se terna a Filha amada,
Com esta jóia então me quer prendada.