Página:Obras poeticas de Claudio Manoel da Costa (Glauceste Saturnio) - Tomo II.djvu/208

Da nação Monaxós, que voluntários
Ao Herói visitavam, se encontrava
Um mancebo gentil, a quem cercava
Branco penacho a testa; os braços cinge
De amarela plumagem; bravo o finge
A tinta do urucú: a cor, nem preta,
Nem branca por extremo, mas que afeta
Do gelado Samiúte o estranho gesto;
Pouco ao braço e ao ombro lhe é molesto
O arco e a aljava; o rosto, a fala e tudo
Verte um ar de respeito, ar sem estudo.
Em vão das flechas a purpúrea arara
Fugir-lhe espera; em vão na garra avara
Mosqueado tigre lhe ameaça a morte:
Empunha o dardo, e valeroso e forte
O faz despojo do robusto braço,
A fere, e corta no vazio espaço.

De impulso por então não conhecido,
O índio, a quem Amor tinha ferido,
Se deixava arrastar, e praticando
Tudo quanto a paixão lhe está ditando,
Do valor de seu braço ele confia
Roubar traidor a vida de Garcia.
Protegido da noute, às horas quando
Jaziam todos, n'ua mão tomando
Uma faca e em outra o dardo agudo,
Por tudo olhando e precavendo tudo,
A tenda busca do saudoso amante;
A luz lhe rege o passo e ao mesmo instante
Na cama o tenta e lhe prepara a morte.
Houve uma vez de ser propícia a sorte,
Que não dorme Garcia e sente o ruído;