Página:Obras poeticas de Claudio Manoel da Costa (Glauceste Saturnio) - Tomo II.djvu/234


Aqui teu duro mal percebo e noto,
Quando, do agudo ferro o peito roto,
Dás à cega ambição em cópias de ouro
O que roubaste, mísero tesouro
De Itamonte, teu Pai, que não sabia
Que a seus cansados anos deveria
Suceder um tão fúnebre desgosto.

Cheio de mágoas te estou vendo o rosto
Com que acusas o humano atrevimento,
Quando lhe acordas o furor violento
Que faz de Polidoro a desventura,
Oh! ambição! Oh! sede! Oh! fome dura!

Ouve Garcia o canto, e não atina
De onde tanto prodígio, mas de Eulina
A delicada face está patente:
Fita os olhos, e vê desde a corrente
Lançar a mão à praia a Ninfa bela;
Toma uma areia de ouro, e já com ela
Pulveriza os cabelos: neste instante
O sonho de Albuquerque o faz avante
Passar; os braços abre, à Ninfa chama;
Ela o vê, e não teme, e já se inflama
De amor por ele; aos braços o convida,
E abrindo o seio o Rio, uma luzida
Urna de fino mármore os sepulta,
Recebendo-os em si: ficou oculta
A maravilha a quantos o acompanham.
Em busca de Garcia já se entranham
Pelos matos mais densos, mas perdida
A esperança de achá-lo, e recolhida
Volta ao Herói a esquadra aventureira.

De inadvertido brincos ação grosseira
Turbara neste tempo a comitiva;