Eulina, que nas graças não receia
Competir co'a Deidade que o Mar cria,
De transparente garça se vestia,
Toda de flores de ouro matizada:
A cabeça de pedras tem toucada,
Deixando retratarem-se as estrelas
Em seus olhos; tão ricas, como belas,
Muitas Ninfas em roda a estão cercando,
Nas lindas mãos nevadas sustentando
Os tesouros que oculta e guarda a Terra
(Tristes causas do mal, causas da guerra!).
Niséia em uma taça oferecia
Um monte de custosa pedraria,
Em que estão misturados os diamantes,
Co'as safiras azuis, e co'os brilhantes
Topázios, co'os rubis, co'as esmeraldas
Que servem de esmaltar essas grinaldas,
De que as Ninfas do Rio ornam a frente.
Em outra taça do metal luzente,
Copioso monte apresentava Loto,
Por extremo formosa; desde o roto
Seio do Rio o louro pó juntara;
Dele costuma usar Eulina clara
Para dar novo lustre a seus cabelos.
Parece que a fadiga dos martelos
Batem o mesmo pó coalhado ao fogo,
Pois deixada esta taça e olhando logo
Para outra que Licenda na mão tinha,
Nelas de barras mil um monte vinha,
Em que o divino pó se convertera.
Não tardava a chegar branda, e sincera,
A mimosa Leutipo: esta ofertava
Uma e outra medalha, que cunhava
Nas pequenas esferas do ouro fino.