aos pés, senta-se perto
Em variegada sela; á parte ficam,
Para que, á bulha e ao trato com soberbos,
O hospede o apetite não perdesse,
E do pai elle a folgo o interrogasse.110
De gomil de ouro ás mãos verte uma serva
Água em bacia argêntea, a mesa lustra,
Que enche a modesta afavel despenseira
De pães e das presentes iguarias;
Escudelas de várias novas carnes115
O trinchante apresenta e copos de ouro,
Que arrasa de almo vinho arauto assíduo.

Suspenso o jogo, os feros pretendentes
Ocupam já cadeiras e camilhas;
Dão água ás mãos arautos, pão comulam120
Servas em canistréis; atiram-se eles
Aos regalados pratos, e as crateras
Lhes coroam mancebos. Farta a sede,
Farta a fome, em prazer os embriagam
Música, dança, adornos de banquetes:125
Cítara ebúrnea entrega um dos arautos
A Fêmio, que forçado ali tangia
E o cântico ajustava ao som das cordas.

Inclinou-se Telemacho a Minerva,
Dizendo á puridade: «Hospede caro,130
Vou talvez enfadar-te? Eles só curam
De cantigas e danças, porque impunes
Comem do alheio, os bens do herói consumem.
Cuja ossada ou jaz podre em longes terras,
Ou rola entre maretas; ah! se o vissem135
Cá reaparecer, mais que ouro e galas,
Planta leve amariam. Fado acerbo
Urge-o porém, e embora algum terrestre
A volta sua afirme, as esperanças
Murchas estão, nem luzirá tal dia.140
Ora, quem és? de que família e patria?
Com que gente vieste e em que navio?
Vindo a pé não te creio. Uses franqueza,
Hospede me és recente ou já paterno?
A muitos nosso teto agasalhava,145