os colmilhos cheios
De negra morte; no antro semi-oculta,
Fora do báratro as cabeças lança,
Para cações pescar, delfins, baleias,
Que a sonora Anfitrite em barda cria.70
Baixel de além surgir não mais se gaba,
Sem que um varão cada garganta engula.

O outro, fronteiro e ao pé, se eleva menos,
De frecha o atingirias. Tem florente
Copada baforeira, e as turvas águas75
Em baixo ao dia vezes três Caríbdis
Sorve e revessa três; mas, quando as sorve,
Se ao vórtice terrível te acercasses,
Nem por Neptuno tu serias salvo.
Cose-te a Cila pois, amiúda o remo;80
Seis é melhor perder que os socios todos.»

E eu: «Livre, ó deusa, da voraz Caríbdis,
Como de Cila poderei vingar-me,
Da ofensora dos meus?» — Tornou-me Circe:
«Guerras sonhas, demente, e contra numes?85
Imortal, seva, tetra, inexpugnavel,
O remédio é fugir da imana Cila:
Se tardas, junto á rocha armando o braço.
Temo que novamente as seis cabeças
Mais outros seis remeiros te arrebatem.90
Veloz navegues, e a Cratéis implores,
Que essa pariu flagelo dos humanos,
Para do assalto posterior contê-la.
Vai rumo de Trinácria, onde o Sol gordos
Há sete armentos e rebanhos sete,95
Cada manada com cinqüenta reses,
Que nunca se propagam, nunca morrem:
A Faetusa e Lampécia de áureas tranças,
Do Hyperionio e de Neera filhas,
A mãe deusa educou-as, e em Trinácria100
As destacou por guarda a pretas vacas
E ovelhas de seu pai. Se intactas forem,
Dificilmente abordareis á patria;
Senão, te agouro aos teus e á nau ruína,
Ou tarde e só te salvarás aflito.»105