Ao gavião, levissima das aves.
O Ítaco rei, no tento igual aos deuses,
Molestado em procelas e batalhas,
Esquece tudo em plácido sossego.
Abordou-se ao luzir a estrela d’alva,70
Núncia a melhor da rubicunda aurora.

Tem no agro de Ítaco o marinho Forco
Porto, que a prumo cabos dous estreitam
E de ventos estrídulos defendem,
Onde vaso alteroso escusa amarras.75
Espalmada, no fundo, uma oliveira
Gruta ensombra, de Náiades sacrário:
Ânforas há lapídeas e crateras;
Sussurrantes abelhas melificam;
Bancos de pedra encerra; as nymphas tecem80
Maravilhosos purpurinos panos;
Possui água perene; dupla a entrada,
Uma ao norte acessível aos humanos,
Outra ao sul para os deuses. Meio impelem
De voga o lenho os práticos Feaces;85
Adormecido Ulysses desembarcam,
Nas mesmas colchas e lençóis envolto;
Á sombra da oliveira os dons colocam,
Á larga obtidos por mercê de Palas,
Fora da estrada, a fim que não lhos toque,90
Antes que elle desperte um viandante.
Isto acabado, para a Esquéria voltam.

Das ameaças ao divino Ulysses
Lembrado, ao grande irmão sondou Neptuno:
«Como hão de honrar-me, Júpiter, os deuses,95
Se homens de mim provindos me desonram?
Sem proibir de Ulysses o regresso,
Que tu juraste mesmo, inda eu cuidava,
Antes de recolher-se, escarmental-o;
Mas puseram-no em Ithaca os Feaces,100
Meu reino atravessando, e o cumularam
De ouro e bronze e tecidos, quanto nunca
Salvo de Ílio trouxera e teve em sorte.»

Respondeu-lhe o Nimbifero: «Hui! Neptuno,
Desprezarem-te os numes! Árduo fora,105