Apoiando a cabeça: — Amigos, disse,
Visão divina o sono interrompeu-me;
Longe estamos da frota; alguém se apresse
A pedir a Agamemnon um reforço. —
Lesto levanta-se o Andremonio Toas,390
Larga o purpúreo manto e á frota corre;
Seu manto enfio, e durmo até que fulge
A aurora em trono de ouro. Ah! se eu tivesse
Aquela idade e força, um dos pastores
Me daria um capote, em reverencia395
Ao homem de valor; mas, roto e velho,
Pouco socorro espero e poucas honras.»
Acode Eumeu: «Foi guapa a tua história
Nem discorreste em vão, cordato amigo.
Não te faleça roupa, ou cousa alguma400
Que há mister suplicante peregrino;
Mas teus andrajos de manhã retoma;
De muda nada temos, uma andaina
De roupa há cada qual. Em vindo o filho
De Ulysses, te dará túnica e manto,405
E os meios de partir para onde queiras.»

Nisto, ao fogão lhe achega e alastra a cama,
Que de espólios cabruns e ovelhuns cobre;
Deita-lhe em cima o gabinardo espesso
Que em temporais tremendos envergava.410
O herói se estira, muito perto os moços;
Porém não pôde Eumeu longe dos porcos
Pegar no sono, e, com prazer de Ulysses
De que houvesses tal zelo em sua ausencia,
Para sair cortante espada ombreia,415
Veste albornoz ao vento impenetravel,
Mais uma pele de crescida cabra;
Contra os mastins e os malfazejos dardo
Rijo empunha, e dormir foi com seus porcos
Em caverna de Bóreas abrigada.420

 

NOTAS AO LIVRO XIV

 

21-57 — Vara de porcos, não vem em Constâncio, posto que venha em Morais, e que Lobo, na Corte na Aldeia, diga ser o mais próprio para significar a reunião destes animais. — Eumeu, com a pressa de ir