Construída por Ítaco, primeiro,
Nérito e Politor, bosque o circula
De uns aquáticos choupos; frio o arroio
Da penha rui; tem ara as nymphas no alto,
Em que todo o viandante sacrifica.150
De Dólio o filho os encontrou, Melanto
Que ia, com dous zagais, levar aos procos
Do cabrum gado a flor. Minaz, ao vê-los,
Ao Laércio pungiu com seus doestos:
«Um mau leva outro mau; deus há que sempre155
Une os iguais. Aonde, ó vil porqueiro,
Guias esse glutão, das mesas peste,
Que aos portaes gaste os ombros, não caldeiras,
Armas não, sim migalhas pedinchando?
Venha dos meus currais para vigia,160
Expurgue o lixo, traga aos chibos folhas;
Beberá soro e criará panturra.
Mas, vadio chapado e mestre em vicios,
Trêmulo a escorregar por entre o povo,
Quer encher o bandulho insaciavel.165
Se elle aos paços reais, eu to asseguro,
Do grande Ulysses for, de mãos nervosas
Á cabeça, voando-lhe escabelos,
Tem de a partir, moê-lo ou derreal-o.»

Na perna eis louco um pontapé lhe senta:170
Firme Ulysses da trilha nem se arreda;
Cogita se a cajado o estire e acabe,
Ou se o erga e no chão lhe esmague a testa;
Mas coíbe-se e atura. Eumeu rebenta,
Alça as palmas a orar: «De Jove ó Náiades,175
Se de anhos e cabritos coxas pingues
Ulysses te queimou, torne, eu vos rogo,
E um deus nô-lo encaminhe! A ti, cabreiro,
Dissipavam-se os fumos com que arruas,
A zagais incumbindo o pobre gado.»180

E Melanto: «Hui! que rosna o cão matreiro?
Olha, que, em negra nau socado, ao longe
Não vão por mantimentos escambar-te.
Assim, de Apolo ás frechas ou dos procos
Hoje aos golpes, Telemacho sucumba,185