Que inda esperar se deve. Mas, se Ulysses
Perdeu-se enfim, outro elle e não criança,
De Apolo por favor, conhece o filho
Quantas mulheres esta casa infetam.»

Ouve-a e grita a rainha: «Descarada,70
Em ti recairá tanta ousadia.
De mim triste soubeste que informar-me
Do esposo vem.» A Eurínoma virou-se;
«Traze-me, ecônoma, um forrado escano;
Em repouso, comigo elle converse.»75

Á pressa o escano de tosões coberto,
Lhe trouxe a velha; ao divo herói sentado
Penélope interroga: «Hospede, vamos
Quem és; de que família? de que patria?»
E o circunspecto: «No orbe, alta senhora,80
Ninguém te vitupera, e a glória tua
Penetra o céo; qual a de um rei sem pecha,
Que é pio e seus magnatas justo enfreia,
A quem do fruto as árvores se vergam,
O agro viça e engradece, a quem produzem85
Greis e armentios, ferve o mar com peixes,
E cujos povos a bondade exercem.
De outra cousa me inquiras, não da patria,
Não da família; ao recordá-las, custa
Gemer em casa alheia. Enfada o choro:90
De alguma serva o escárneo atrairia,
Se o teu não fosse, e pode ser que ao vinho
Meu luto lagrimoso atribuíssem.»

E ela: «O Céo me tirou beleza e forças,
Desde que a Tróia Ulysses me levaram.95
Venha, mande-me e reja, e a minha glória
Mais resplendeceria: hoje um demonio
Me entristece e comprime. A flor dos Gregos
De Dulíquio, Zacinto, Ithaca e Same,
Requestando-me invita, os bens me estragam.100
Já nos pobres nem hospedes provejo,
Ou nos arautos, público ministros:
Saudosa a prantear consumo a vida;
Urgem-me os procos, e eu maquino enganos.
Um gênio me inspirou tramar imensa105