Compassível discurso. Ah! quantas vezes
O pão comi da mesa do estrangeiro!
De novas aflições me afaste Jove!
Solta a parelha, os hospedes convida.»
Eteoneu chama os fâmulos, que o seguem:30
Aos suados corcéis, do jugo livres,
Meiam cevada e espelta a manjedoura;
Á parede luzente o carro apoiam;
Introduzem na regia os peregrinos,
Regia brilhante como o Sol e a Lua.35

Já farta a vista, em limpa cuba os lavam
E ungem de óleo as escravas, que, em felpudos
Albornozes, e túnicas macias,
Do soberano a par os apoltronam.
De gomil de ouro ás mãos verte uma delas40
Água em bacia argêntea, a mesa lustra,
Que enche a modesta afavel despenseira
De pães e das presentes iguarias;
Escudelas de várias novas carnes
O trinchante apresenta e copos de ouro.45
Dá-lhes a destra e fala Menelau:
«Comei, saboreais; depois da ceia,
Saberemos quem sois. De escura estirpe
Certo não vindes, mas de heróis cetrados:
Gérmen vil não rebenta em plantas nobres»50

Aqui, tergo bovino assado e gordo.
Seu quinhão de honra, aos hospedes offerta,
Que ao regalado prato as mãos estendem.
Refeitos já, Telemacho ao Nestório
Inclinou-se em voz baixa: «Considera,55
Amigo da minha alma, como ecoa
E esplende a sala, em bronze, em prata, em ouro,
Em electro e marfim! Do interno Olympo
É tal o adorno imenso: espanta olhal-o.»

Menelau, que o percebe, acode: «Filhos,60
Ninguém se iguala a Jove na opulencia;
Eterno é seu palacio. Uns nos haveres
Superam-me, outros eu: mas que infortúnios
Oito anos carreguei, vagando os mares!
Vi Chipre, vi Fenicia, vi o Egito,65