Com mãos robustas pertinaz Ulysses
Lhe aperta a boca, o exército preserva,
Até que enfim reconduziu-te Palas.»

Eis Telemacho: «É duro que as virtudes,
Sublime rei, da Parca o não livrassem,230
Qual se tivesse um coração de ferro.
Mandai-nos ora aonde ambos logremos
As delicias do sono.» — Presto Helena
Desdobrar faz ao pórtico umas camas
De almofadas e espessos cobertores235
E purpúreos tapetes: logo as servas
Aparecem de facho, e tudo aviam;
Conduz arauto os hospedes; lá dormem
O herói Telemacho e o Nestório egrégio.
Pernoita Menelau na interna alcova,240
E a mais gentil mulher nos braços dele.

Do éter gênita, surde a roxa aurora:
Desperta, veste-se o belaz Atrida;
Cingindo a espada, as nitidas sandálias
Calça, e ao pé do Ulisseida vem sentar-se:245
«Que precisão, Telemacho, rasgado
O equóreo dorso, te conduz a Esparta?
É pública ou privada? eia, franqueza.»

Prudente o moço: «A ti, senhor, pujante,
Vim para de meu pai colher noticias.250
Enchem-me a casa, arruínam-me a fazenda,
Matam-me negros bois, e ovelhas pingues
Os procos de Penélope, vorazes,
Arrogantes, violentos e importunos.
Conta-me, eu te suplico, a morte sua,255
Se a viste ou referiu-te um forasteiro.
Foi no ventre materno á dor votado!
A minha tu não poupes, nada ocultes;
E, o caro genitor se em tudo e sempre
Te era fiel na desastrosa guerra,260
Isso lembre-te agora e não me iludas.»

O Espartano suspira: «Oh Céos! cobardes
Ao tálamo aspirar de herói tamanho!
Se, em covil de leão depondo acaso
Os filhinhos de mama, o vale e monte265