Hospitaleiros dons vou presentar-te.»

Ela, em mesa que alçou, mistura ambrosia
E rubro néctar. Saboreia alegre
E diz Mercurio: «Deusa, em deus perguntas
A que venho? Obrigado fui por Jove:70
Quem voluntário atravessava o ingente
Pelago salso, onde cidade falta
Que nos sagre solenes hecatombes?
Mas transgredir-lhe as ordens não podemos.
Dos que os Priameus sitiados muros75
Ao décimo ano destruíram, consta
Que tens contigo o mais desventuroso:
No regresso ofendida, excitou Palas
Tempestade em que os socios pereceram;
Salvo abordou só elle ás praias tuas.80
Quer Jove que o mais breve o deixes livre;
Dos seus não morra ausente: amigos, patria,
O alto paço rever, tem por destino.»
Freme Calypso e rápido responde:
«Cruéis sois todos, ínvidos, ciosos85
De que em seu leito ás claras uma deusa
Mortal admita e ame e aceite esposo.
Roubado Órion da Aurora dedirrósea,
O invejastes, vós deuses té que Febe
Casta e auritrônia o derribou na Ortígia90
Com brandas frechas; de Jasão cativa,
Quando num trietérico pousio
Com elle Ceres de anelada coma
Ajuntou-se amorosa, a fulminal-o
Foi pronto Jove: agora, ó deuses, tendes95
Zelos desse homem, que salvei lutando
Sobre a quilha de nau despedaçada
Pelo mesmo Tonante, e que sozinho
Arrojoram-me á ilha as negras ondas.
Carinhosa acolhi-o, na esperança100
De isental-o da morte e da velhice;
Mas do Satúrnio o mando irresistível
Execute-se, vague pelos mares
De novo o herói. Não posso despedi-lo;
Vasos faltam-me e nautas que o transportem105