Firmam-se em torno, da soleira adentro,
Com seus frisos de esmalte, áureas as portas,
Argênteos os portaes ao brônzeo ingresso,
Argênteas vergas, a cornija de ouro;
De ouro e de prata uns cães, de lado a lado,70
Com alma e coração, Vulcânio invento,
São de Alcino os custódios vigilantes,
Imortaes e á velhice não sujeitos;
Para o interior há tronos desde a entrada,
Com finos véos de mãos femíneas obra,75
Onde em redor assentam-se os magnatas
A comer e beber, durante o ano;
Com primor fabricados, junto ás aras
Mancebo de ouro estão, de acesos fachos
A alumiar de noite os conviventes.80
Servem cinqüenta moças: quais, em pedra
Flavo trigo a moer; quais, aos teares;
Quais, a virar num rodopio os fusos,
Como do álamo as folhas buliçosas.
Untado e bem tecido o linho estila:85
Tanto os Feaces navegando excelem,
Quanto as mulheres têm, mercê de Palas,
Para a teia e o lavor engenho e arte.

Não distante, há vergel de quatro jeiras,
Onde florentes árvores viçosas,90
De inverno e de verão, perene brotam;
Zéfiro meigo lhes sazona os frutos,
Um pula, outro arregoa, outro envelhece.
Nova sucede á pêra já madura;
Á escachada romã sucede nova;95
Esta oliva é de vez, rebenta aquela;
Junto á maçã vermelha a verde cresce;
Figo após figo, mela, uva após uva.
Medra abundante vinha: em área cachos
Estão secando ao Sol, quais se vindimam,100
Quais pisam-se em lagar; doces roxeiam,
Ou no desflorescer acerbos travam.
O arruado pomar fenece em horta,
De verduras mimosa em toda quadra.
Pelo inteiro jardim corre uma fonte;105