Sem temor de soçôbro ou de avaria.
Previu porém meu pai que, da passagem
E do socorro aos náufragos Neptuno
Azedo, um nosso galeão de volta
Sumiria no pelago, á cidade430
Um monte empinadissimo afrontando.
Se há de ou não preencher-se o vaticínio
Pertence ao deus. Mas sem refôlho narra
Que praias tens corrido, que paragens
E regiões trilhado; quais das tribos435
Agrestes eram, bárbaras e injustas;
Quais, tementes á Jove e hospitaleiras.
Porque em segredo gemes, as desgraças
Dos Gregos e dos Teucros escutando?
O Céo quis sucumbissem tais guerreiros,440
Para matéria a pósteros poemas.
Junto a Ilion morreu-te algum parente?
Morreu-te um genro, um sogro, os mais diletos
Após os consangüíneos? ou pranteias
Um camarada? o socio íntimo e sério445
Não é menos que irmão no amor e estima.

 

NOTAS AO LIVRO VIII

 

71-78 — Homero não diz, como alguns tradutores, que só a toada agradava aos ouvintes; a letra sobretudo é que entristecia a Ulysses. O verbo enamorar, Constâncio o dá por antiquado e Gonzaga, autor que nunca sai da linguagem do tempo de Garção e Denis, traz enamorar, no translato, em que é comumente empregado de preferencia a namorar. E este ultimo tem menos nobreza no sentido próprio; diz-se, por exemplo, a moça namora a todos, e não enamora a todos; além de que, a primeira oração mostra sempre que é a moça que procura agradar, quando a segunda pode mostrar que ela é a todos agradavel sem buscar sê-lo. — Homero, parece-me, distingue o saltar do dançar: nos jogos públicos, houve exercicio de luta, carreira, pugilato e salto; a dança propriamente dita foi ao depois que mandaram vir a lira de Demôdoco, e mereceu louvor especial de Ulysses.

106-115 — O verso 106 é de Camões, canto VI, na fala de Veloso. O meu verso 115 diz que o navio estava em nado, ou que tinha