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ORIGEM DAS ESPÉCIES

vezes atribuído estas diferenças à pressão dos invólucros sobre as florzinhas, ou às compressões reciprocas, e a forma das sementes contidas nas florzinhas periféricas de algumas compostas parece confirmar esta opinião; mas, nas umbelíferas, como ensina o Dr. Hooker, não são certamente as espécies que têm os capítulos mais densos do que as flores periféricas. e centrais que oferecem diferenças mais frequentemente. Poderia pensar-se que o desenvolvimento das pétalas periféricas, levando a nutrição aos órgãos reprodutores, determina a sua atrofia; mas não pode ser causa única em todos os casos; porque, em certas compostas, as sementes das florzinhas internas e externas diferem sem que haja alguma diferença nas corolas. Julga-se que estas diferenças estejam em relação com o fluxo de nutrição diferente para as duas categorias de florzinhas; nós sabemos, pelo menos, que, nas flores irregulares, as que estão mais próximas do eixo se mostram mais sujeitas à peloria, isto é, a tornar-se simétricas de modo anormal. Juntarei, como exemplo deste facto e como caso de correlação notável que, em muitos dos pelargónios, as duas pétalas superiores da flor central do tufo perdem muitas vezes as suas manchas de cor mais carregada; esta disposição é acompanhada da atrofia completa do nectário aderente, e a flor central torna-se assim pelórica ou regular. Quando só uma das duas pétalas superiores é colorida, o nectário não é atrofiado por completo, é somente diminuído.

Quanto ao desenvolvimento da corola, é muito provável, como diz Sprengel, que as florzinhas periféricas sirvam para atrair os insectos, cujo concurso é muito útil ou mesmo necessário à fecundação da planta; se é assim, a selecção natural pode entrar em jogo. Mas parece impossível, no concernente às sementes, que as suas diferenças de forma, que não estão sempre em correlação com certas diferenças da corola, possam ser-lhes vantajosas; contudo, nas Umbelíferas, estas diferenças parecem tão importantes — as sementes sendo algumas vezes ortospérmicas nas flores exteriores e colospérmicas nas flores centrais — que de Candolle, o velho, baseou nestes caracteres as principais divisões da ordem. Assim, modificações de estrutura, tendo uma alta importância aos olhos dos classificadores, podem ser devidas inteiramente às leis da variação e da correlação, sem ter, tanto quanto pelo menos o podemos julgar, qualquer utilidade para a espécie.

Podemos algumas vezes atribuir sem razão à variação correlativa deformações comuns a grupos inteiros de espécies, que são, de facto, apenas o resultado da hereditariedade. Um ancestral afastado, com efeito, pôde adquirir, em virtude da selecção