Página:Origem das espécies (Lello & Irmão).pdf/379

SUCESSÃO GEOLÓGICA DOS SERES ORGANIZADOS
353

elevadas do que as formas antigas. Será assim? A imensa maioria dos paleontólogos responderia pela afirmativa, e a sua resposta, posto que a prova seja difícil, deve ser admitida como verdadeira.

O facto de certos branquiópodes terem sido apenas ligeiramente modificados desde uma época geológica muito afastada, e de certas conchas terrestres e de água doce ficarem quase o que eram nessa época em que, tanto quanto o podemos saber, apareceram pela vez primeira, não constitui uma objecção séria a esta conclusão. É necessário não ver tão-pouco uma dificuldade insuperável no facto verificado pelo Dr. Carpenter, de a organização dos foraminíferos não ter progredido desde a época laurentiana; porque alguns organismos devem ficar adaptados às condições de vida muito simples; ora, quem melhor apropriado a este respeito do que os protozoários de organização tão inferior? Se a minha teoria implicasse como condição necessária o progresso da organização, objectos desta natureza ser-lhe-iam fatais. Sê-lo-iam igualmente se se pudesse provar, por exemplo, que os foraminíferos tomassem origem durante a época, laurentiana, ou os branquiópodes durante a formação cambriana; porque então não teria decorrido um tempo suficiente para que o desenvolvimento destes organismos chegasse ao ponto que atingiram. Uma vez chegados a um estado dado, a teoria da selecção natural não exige que continuem a progredir mais, posto que, em cada período sucessivo, devam modificar-se ligeiramente, de modo a conservar o seu lugar na natureza, apesar das ligeiras alterações nas condições ambientes. Todas estas objecções repousam sobre a ignorância em que estamos da idade real do nosso globo, e dos períodos em que as diferentes formas da vida têm aparecido pela vez primeira, pontos muito discutíveis.

A questão de saber se o conjunto da organização progrediu constitui de todas as formas um problema muito complicado. Os arquivos geológicos, sempre muito incompletos, não vão bastante longe para que se possa estabelecer com unia nitidez incontestável que, durante o tempo de que a história nos é conhecida, a organização fez grandes progressos. Hoje ainda, se se comparam entre si os membros de uma mesma classe, os naturalistas não estão de acordo para decidir quais são as formas mais elevadas. Assim, uns consideram os cetáceos ou tubarões como os mais elevados na série dos peixes, porque se aproximam dos répteis por certos pontos importantes de conformação; outros dão a mesma ordem aos teleósteos. Os ganóides estão colocados entre os cetáceos e os teleósteos; estes últimos são actualmente muito preponderantes em número, mas outrora os