Página:Origem das espécies (Lello & Irmão).pdf/413

DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA
387

rosamente formas árcticas, porque, assim como o faz notar M. H. C. Watson «à medida que se desce das latitudes polares para o equador, as floras das montanhas, ou floras alpinas, perdem cada vez mais os seus caracteres árcticos». Demais a mais estas formas idênticas e muito estreitamente aliadas, muitas espécies, habitando estes mesmos pontos tão completamente separados, pertencem aos géneros que se não encontram actualmente nas baixas regiões tropicais intermédias.

Estas breves notas aplicam-se apenas às plantas; poder-se-iam, todavia, citar alguns factos análogos relativos aos animais terrestres. Estas mesmas notas aplicam-se igualmente aos animais marinhos; ou poderia citar, por exemplo, uma asserção de uma grande autoridade, o professor Dana: «É certamente curioso ver, diz ele, que os crustáceos da Nova Zelândia tenham com os da Inglaterra, seus antípodas, uma semelhança mais estreita que com os de toda a outra parte do globo». Sir J. Richardson fala também da reaparição nas costas da Nova Zelândia, da Tasmânia, etc., de formas de peixes todas setentrionais. O Dr. Hooker ensina-me que vinte e cinco espécies de algas, comuns à Nova Zelândia e à Europa, não se encontram nos mares tropicais intermédios.

Os factos que precedem, isto é, a presença de formas temperadas nas regiões elevadas de toda a Africa equatorial, da península indiana até Ceilão e arquipélago malaio, e, de uma maneira menos característica, nas vastas regiões da América tropical do Sul, autorizam-nos a pensar que em época remota, provavelmente durante a parte mais fria do período glaciário, as baixas regiões equatoriais destes grandes continentes foram habitadas por um número considerável de formas temperadas. Nesta época, é provável que ao nível do mar o clima fosse então no equador o que é hoje na altitude de 5 000 a 6 000 pés, ou talvez mesmo ainda um pouco mais frio. Durante este período muito frio, as regiões baixas no equador deviam ter sido cobertas por uma vegetação mista tropical e temperada, semelhante à que, segundo o Dr. Hooker, tapeta com exuberância os cabeços inferiores do Himalaia na altura de 4 000 a 5 000 pés, mas talvez com uma preponderância ainda maior de formas temperadas. Igualmente ainda M. Mann encontrou que formas europeias temperadas começam a aparecer a 5 000 pés de altura aproximadamente, na ilha montanhosa de Fernando Pó, no golgo da Guiné. Nas montanhas do Panamá, o Dr. Seemann encontrou, a 2 000 pés de altura sòmente, uma vegetação semelhante à do México, e apresentando uma «harmoniosa miscelânia de formas da zona tórrida com as das regiões temperadas».