Página:Origem das espécies (Lello & Irmão).pdf/442

416
ORIGEM DAS ESPÉCIES

as espécies mais espalhadas e mais comuns, isto é, as espécies dominantes, pertencendo aos maiores géneros de cada classe, que variam mais. As variedades ou espécies nascentes produzidas por estas variações convertem se ulteriormente em espécies novas e distintas; estas ultimas tendem, en virtude do princípio da hereditariedade, a produzir por seu turno outras espécies novas e dominantes. Por conseguinte, os grupos já consideráveis que compreendem ordinàriamente numerosas espécies dominantes, tendem a aumentar sempre cada vez mais. Ensaiei, além disso, demonstrar que os descendentes variáveis de cada espécie procurando sempre ocupar o maior número de espaços diferentes que lhes é possível na economia da natureza, esta concorrência incessante determina uma tendência constante à divergência de caracteres. A grande diversidade das formas que entram em tão visa concorrência, numa região muito restrita, e certos factos de aclimatação, vêm em apoio desta asserção.

Procurei também demonstrar que existe, nas formas que estão em via de aumentar em número e de divergir em caracteres, uma tendência constante em substituir e em exterminar as formas mais antigas, menos divergentes e menos perfeitas. Peço ao leitor para de novo lançar um olhar sobre o quadro representando a acção combinada destes diversos princípios; verá que têm uma consequência inevitável, e que os descendentes modificados de um antepassado único terminaram por se separar en grupos subordinados a outros grupos. Cada letra da linha superior da figura pode representar um género compreendendo muitas espécies, e o conjunto dos géneros da mesma linha forma uma classe; todos derivam, com efeito, de uma mesma fonte e devem, por isso, possuir alguns caracteres comuns. Mas os três géneros agrupados à esquerda têm, pelo mesmo principio, muitos caracteres comuns e formam uma subfamília distinta da que compreende os dois géneros seguintes, à direita, que divergiram de um pai comum desde o quinto genealógico. Estes cinco géneros têm também muitos caracteres comuns, mas não tantos que formem uma subfamilia; formam uma família distinta da que encerra os três géneros colocados mais à direita, os quais divergiram num período ainda mais antigo. Todos os géneros, descendidos de A, formam uma ordem distinta da que compreende os géneros derivados de I. Temos, pois, aqui um grande número de espécies, descendendo de um avô único, agrupadas em géneros; estes em subfamílias, em famílias e em ordens, o todo constituindo uma grande classe. E assim, julgo eu, que se explica este grande facto da subordinação natural de todos os seres organizados em grupos subordinados a outros grupos,